Estatuária e Linguística

A la Literature et a la Chanson Wallones
A la Literature et a la Chanson Wallones

A imagem do cabeçalho da página é uma vista de «Fontein op 't Zand». 

 

 

  «Podemos considerar a estatuária e a língua como dois extensos marcadores territoriais. Ambos se dispõem ocupando o espaço territorial dos países e regiões, a língua pela presença dos falantes, do material textual veiculado em termos gerais e na legendagem urbana e viária e a estatuária pela disposição espacial evocando lendas, histórias, acontecimentos, personalidades e tipos significantes na comunidade linguística desse país ou região e com frequência afins da localidade onde se inserem.

 

É interessante notar que na Bélgica, país fortemente dividido entre as comunidades francófona e flamenga, por exemplo as placas de inscrições são na língua da comunidade que ocupa o espaço onde o monumento se situa, como é o caso, em Bruges, da Fontein op 't Zand [Fonte na areia] [IDE:453], um enorme conjunto monumental suportado numa fonte com cenas do quotidiano do passado recente e do presente, onde se observam cenas claramente da cultura flamenga costeira, os temas alusivos à pesca, o vestuário, bem como o tema da bicicleta, que continuam a ocupar extensivamente esta cidade, as inscrições no monumento são em flamengo, tendo como segunda língua uma frase em italiano, sem que tenha inscrição alguma em francês.

 

Já em Tournai, na região francófona, deparamo-nos logo na entrada com o monumento A la Literature et a la Chanson Wallones [IDE: 444], uma evocação lírica, pelo tema e pela representação de uma criança de braço erguido, é claramente um marco territorial da comunidade francófona. Assim, em Bruges temos como elementos identitários da comunidade, o boliço social, a pesca e a bicicleta, entre outros enquanto Tournai nos apresenta a literatura, a poesia e a imagem de um rapaz com ar afável.

 

São dois monumentos escultóricos de dimensões completamente diferentes, O primeiro referido, em Bruges, comporta mais de uma vintena de figuras, em tamanho pouco acima do natural, além de muitos utensílios, alfaias de pesca, bicicletas e adereços, ocupando uma área superirior a 100m2, no centro da grande praça de 't Zand enquanto o segundo se trata dum monumento de dimensões modestas, também uma fonte, com um estreito paredão de cerca de três metros de altura, com inscrições a dourado e fundo vermelho num pequeno elemento heráldico circular que encima as inscrições e uma única figura humana, neste conjunto de enquadramento bucólico, sob uma grande árvore e com arbustos em volta, na Rue des Jésuites.»

 

Texto em: 2009 - João Filipe do Carmo Vieira, «Dispositivos de identidade na estatuária urbana europeia», Tese de Doutoramento em Ciências da Arte pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (Pág. 90, 91).


Disponível em "open access" no Repositório da Universidade de Lisboa com o identificador de referencia no Link: http://hdl.handle.net/10451/2682

 

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